(Lusa) - O crime informático em Portugal triplicou em 1999, em relação ao ano anterior, afirmou à Agência Lusa Carlos Cabreiro, inspector da Secção de Investigação de Criminalidade Informática e Telecomunicações (SICIT) da Polícia Judiciária (PJ).
''Em 1999 deu-se um crescimento exponencial do número de crimes informáticos, cerca de 320, contra os 104 registados em 1998'', explicou Carlos Cabreiro.
Os crimes de acesso ilegítimo constituíram a maioria dos processos registados em 1999, com 240 casos, sendo que muitos estão ligados ao ''boom'' da utilização indevida de passwords alheias.
''A Telepac recebeu inúmeras queixas de clientes dizendo que as suas palavras de acesso à Internet eram utilizadas por terceiros'', disse.
Outro tipo de situações investigadas pela SICIT são as intrusões em sistemas informáticos, normalmente cometidas por especialistas no ramo, as fraudes com cartões de crédito, através da duplicação das bandas magnéticas, e os crimes relacionados com telecomunicações, onde as situações mais frequentes se prendem com a revenda das chamadas de operadores fixos e móveis.
Também da competência da SICIT, são os crimes de burla informática, que na maioria dos casos se prendem com a utilização ou interferência em dados ou programas informáticos sem autorização.
A Internet é, segundo o inspector, mais um instrumento à disposição dos criminosos informáticos, passando a ser um lugar preferencial para determinadas práticas ilegais, como a pedofilia, o branqueamento de capitais ou um novo espaço para as burlas tradicionais.
''O crime informático em Portugal está muitas vezes associado à criminalidade organizada'', explicou.
Assim, a SICIT trabalha muitas vezes associada a outros departamentos da Polícia Judiciária mas não recorre a piratas informáticos (hackers), ''uma vez que a legislação portuguesa não o permite''.
Reconhecendo que uma grande parte dos crimes informáticos se dirige contra as empresas (a par dos grandes organismos públicos e das Universidades), o inspector da SICIT alertou para o facto de não existirem em muitas companhias os necessários procedimentos de segurança como ''a gestão das contas de acesso à Internet e do tipo de informação a que cada funcionário deveria ter acesso''.
''Há alguns anos a principal preocupação das empresas era ter o melhor equipamento em termos de software e hardware em detrimento dos sistemas de protecção para o exterior'', explicou.
Também ao nível da educação, Carlos Cabreiro afirmou que o recente ''boom'' de instalação de equipamentos informáticos e Internet nas escolas deveria ser acompanhada, por parte do Ministério da Educação, de uma formação adequada.
Também complicado é traçar um perfil do criminoso informático: ''desde o empregado que quando é despedido se revolta contra à empresa até ao miúdo que passa horas agarrado ao computador e de que os pais só desconfiam quando lhes batemos à porta, há de tudo'', disse.
Quanto à legislação portuguesa, embora a maioria destes crimes já esteja prevista, o inspector do SICIT considerou desejável que exista uma maior especificidade e concretização em relação a certas práticas ilícitas.
Outra das dificuldades apontadas por Carlos Cabreiro na investigação dos crimes informáticos centra-se no carácter volátil das provas, o que exige uma boa colaboração da Polícia Judiciária com os fornecedores de serviços e equipamentos.
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