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  Medina Ribeiro - 21/08/99 Enviar por email   Versão impressora

Jeremias XXI- Um Problema Bicudo
 
  [Macro error: Can't locate an image object named "imagcad53".] - Olha lá, ó Jeremias... tu, que dominas bem a geometria de Euclides, estás a par do problema da quadratura do círculo (1)?

A pergunta, como não podia deixar de ser, vinha do meu amigo Coronel Reboredo.
E atirou-ma quando íamos a sair de mais uma das muitas intervenções que temos feito nas Escolas.

Limitei-me a fazer que sim com a cabeça e fiquei à espera do resto da conversa ou da pergunta seguinte.
Mas, como tantas vezes acontecia, ele já se esquecera do que estava a falar; e olhava agora, muito interessado, para uma loira gorduchinha que esperava, sorridente e de perna traçada, na paragem do autocarro.
Pois já ele se estava a refastelar no banco do pendura (e eu a pôr a moto em andamento) e ainda não tinha percebido qual a finalidade da estranha questão que me pusera.

E na altura também não lho perguntei.
Mas, mais tarde, roído de curiosidade e enquanto já arrumávamos a máquina na garagem, não resisti.
E, grato pelo meu interesse, respondeu-me então:

- Ah... sim... a quadratura do círculo...

Depois, baixando a voz em ar de grande segredo (como tanto gostava de fazer) desabafou:

- Eu ando a fazer grandes e sigilosos estudos de geometria multi-dimensional.
- Sobre parábolas? - Perguntei eu, sabendo como ele se considerava especialista nessas curvas.
- Melhor! As parábolas são curvas planas e, como tal, limitadas espacialmente. Sofrem do mesmo mal que o círculo e o quadrado.
- E o que é que eu posso fazer quanto a isso, Coronel?

Era a pergunta típica-estúpida que eu fazia quando já não estava a perceber nada e a conversa ameaçava ficar inacabada.

- Não podes fazer nada, amigo Jeremias, não podes fazer nada, a não ser acompanhar o meu raciocínio. Estás com pressa?

Por acaso até estava, pois começava a fazer-se tarde para ir buscar a Genoveva (2) à faculdade.
Mas, vendo que se aproximava mais algum grande mistério, a curiosidade foi mais forte e disponibilizei-me para ouvir o resto pensando que fosse coisa rápida.
Mas muito me enganava! Entusiasmado, pegou-me pelo braço e anunciou:

- Então vamos até à sala dos grandes estudos espaciais!

Como já se percebeu, o quarto dele ia mudando de nome conforme o que lá fazia...
E procedeu-se ao ritual do costume:
Uma vez entrados na garagem, e enquanto eu fechava a porta por dentro, ele riscou um fósforo com que em seguida acendeu um candeeiro a petróleo.
Depois abriu a enorme porta de carvalho que dava acesso às escadas e lá fomos nós, tropeçando aqui e acolá pela passagem secreta acima... até sairmos, através do inevitável guarda-fato, no quarto dele!
Sentou-se à secretária, visivelmente fatigado mas satisfeito, e ligou o computador.
Enquanto o Windows aquecia (eram as palavras do Coronel...) abriu o inevitável pacotinho de bolachas-de-água-e-sal, ofereceu-me uma e confidenciou-me:

- Resolvi subir - ou melhor: incrementar - um degrau dimensional no problema da quadratura do círculo, que já se torna cansativo.
Eu devo ter feito cara de quem não percebia nada, pois ele passou a explicar, enquanto ia teclando:

- Resolvi dedicar-me ao problema equivalente, mas, para já, apenas a três dimensões: o problema da cubicagem da esfera!

Não era preciso perguntar mais nada:
No monitor já se via uma esfera, branca e perfeita, lado a lado com um cubo da mesma cor.
Mas, para meu grande espanto, e devido a um programa de morphing, a esfera começou a deformar-se ligeiramente, alongando-se na parte inferior, e ficando com a forma de um ovo!
Já esperando a minha reacção, o Coronel comentou, rindo:

- Um dia, um aluno de Euclides perguntou-lhe qual a utilidade da geometria que ele ensinava. O velhote ficou furioso, e com alguma razão. Só um idiota faria uma pergunta dessas. Talvez por isso tu te estejas a inibir de me perguntar para que serve o que estou afazer...


- Nada disso! - Comentei, desculpando-me, mas mentindo descaradamente. Estou até a seguir tudo com muita atenção...
- Mas confessa lá que não percebes aonde eu quero chegar! Reconheci que era esse o meu problema. Ele continuou:
- Trata-se de fazer algo de muito útil: produzir ovos cúbicos.

E continuou a manipular a imagem do ovo... Confesso que me senti idiota, assistindo à sua deformação, através de alguns comandos simples com o rato e o teclado, da figura do ovo num cubo...

- Já viste que melhora muito a arrumação nas caixas?
Tive que concordar.
Mas, vendo que eu não desenvolvia a conversa, ele mesmo continuou:

- Pois ficas a saber que isto até já existe há muito tempo. Já houve um inventor que, usando produtos para amolecer temporariamente a casca dos ovos, conseguiu que fossem posteriormente moldados em forma cúbica ou, pelo menos, prismática.

Pois agora é que eu não percebia mesmo nada! Então, se essa coisa esquisita já estava inventada, o que é que ele queria mais?!

- Agora entra a engenharia genética, caro amigo! A engenharia genética! Trata-se de manipular geneticamente as galinhas para darem, logo à partida, ovos cúbicos!

Foi a custo que contive o riso...
Mas ele não se importou e, ligando-se à Internet acedeu a uma home-page de um outro indivíduo que, pelos vistos, andava a tentar resolver o mesmo problema!
Bingo! Em vez de um maluco já havia, pelo menos, dois!

Mas o Coronel explicou:

- Este gajo debate-se com um problema que ainda não conseguiu resolver. E a minha esperança está, precisamente, em conseguir tornear essa dificuldade e passar-lhe à frente!

Depois de um longo silêncio em que, mais uma vez, pensei que ele se tivesse esquecido de mim, prosseguiu:

- É que o gajo não consegue obter a colaboração das galinhas... Elas, pura e simplesmente, recusam-se a pôr ovos cúbicos!

Não resisti a um trocadilho, por forma a justificar a gargalhada:

- Vendo assim o problema do ovo... a questão parece-me bastante CLARA! O homem deve ser CASCA-GROSSA...

Mas ele não se apercebeu da gracinha, pelo que mais me espantei quando concluiu, muito sério:

- Pois é... devido aos vértices dos cubos, ele não consegue arranjar nenhuma galinha que não GEMA...


(1) Trata-se de um problema clássico e insolúvel:
Determinar (usando apenas compasso e régua), o lado que um quadrado deve ter para que a sua área seja igual à de um círculo dado.

(2) A namorada do Jeremias nessa semana...


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