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  Medina Ribeiro - 13/08/99 Enviar por email   Versão impressora

Jeremias XX- O Mistério do Centilitro Desaparecido
 
  [Macro error: Can't locate an image object named "imagcad52".] Quando, há dias, eu e a Florinda (1) íamos a passar à porta do Coronel, assustámo-nos: é que ia a sair, muito nervoso, o Dr. Matos Mata, (2) pelo que desconfiámos que alguma coisa podia não estar a correr bem. Mas ele esclareceu, sossegando-nos:

- Não é nada de grave, Jeremias. Por enquanto não é nada de grave...

Mas aproveitou para desabafar:

- A casmurrice dele é que me irrita! Olhem, sabem que mais? É muito difícil ser médico de pessoas assim!

E, já a entrar para o carro, ainda nos disse:

- Mas, já que vocês estão por aqui, batam-lhe à porta, entrem e distraiam-no um pouco... Ele não pode passar a vida só a navegar na Internet e a ver as bailarinas do «Big Show Sic»! E vai mesmo ter que cortar com o Whisky, quer queira quer não queira!

Assim fizemos, e foi com vivo prazer que o nosso bom amigo nos viu aparecer e nos mandou entrar.
Depois da habitual confusão devida ao facto de nunca acertar com o nome da minha namorada actual, fez-nos sentar na sala, serviu-nos café com bolachinhas-de-água-e-sal, e desatou a lamentar-se:

- Ando com tonturas, amigo Jeremias. Amanhã vais ter que ir sozinho à sessão da Internet nas Escolas... Mas podes, à mesma, levar a minha moto. Olha, e aproveita o facto de a professora ser de matemática para tentar descobrir o mistério do centilitro.

Confesso que fiquei atrapalhado quando o Coronel me deu conta da sua indisponibilidade, pois eu contava com a sua ajuda e com os seus conhecimentos matemáticos para me ajudar na visita à escola da Dra. Imaginária.
Bem... sempre podia levar a Florinda ao emprego no lugar do pendura no sidecar...

Mas... que história seria essa do mistério do centilitro?!




Desde que ando pelas escolas a divulgar o uso das novas tecnologias tenho aprendido muitas coisas e (como aconteceu desta vez) recapitulado outras de que já andava esquecido:
Uma delas tem a ver, precisamente, com osnúmeros racionais e irracionais.
O nome é manhoso, pois presta-se a trocadilhos tão fáceis quanto idiotas, permitindo chamar nomes às pessoas conforme dominam ou não o assunto.
Mas, afinal, racional vem de razão, com o significado de relação ou divisão.

Assim, qualquer número que se possa representar como sendo o resultado da divisão de dois números inteiros é um número racional.
É o caso do 0,2, do 0,25, do 0,5, do 1, do 1,5, do 2, do 5, etc. (E adiante já perceberão porque é que escolhi estes exemplos).

Mas há um outro tipo de números que sempre me fez confusão:

Experimentem dividir 1 por 3 e verão que nunca mais conseguem acabar de fazer a conta, pois obtêm 0,3333333... e assim sucessiva e indefinidamente, com “3” que nunca mais acabam.

No entanto, apesar de eu o classificar como número esquisito, ele é um número racional como os outros, pois é o resultado exacto da divisão de dois números inteiros.




Mas vamos então agora ao que interessa.
Devido a preocupantes resultados de análises ao sangue, o Dr. Matos Mata resolvera, recentemente, proibir o Coronel de beber quaisquer bebidas alcoólicas (3). O valente militar tem andado, pois, e a contragosto, a beber apenas águas, sumos, colas, chás e coisas dessas.

E foi nesse seguimento que descobriu uma estranha coincidência: que os volumes das embalagens são sempre números racionais!

1/5 (que é 0,2);
1/4 (que é 0,25)
1/2 (que é 0,5),
3/2 (que é 1,5)
4/4 (que é 1)
3/2 (que é 1,5)

para já não falar nas garrafonas de 2 litros e nos garrafões de 5 litros.
E, depois de expor isso mesmo, comentou, com cara de caso:

- Mas, no meio disso tudo, há uma excepção estranha: as omnipresentes embalagens de 33 centilitros!

E, levantando-se e passeando pela sala perante o nosso pasmo, começou a dissertar, esfuziante:

- Está-se mesmo a ver que a ideia inicial era fazerem-se embalagens com 1/3 de litro. No entanto, com esta história de arredondar o 1/3 para 0,33, aconteceu o seguinte...

Calou-se e olhou para nós, para ver se estávamos com atenção e a acompanhar o raciocínio.
Deu-se por satisfeito e prosseguiu:

- Tal como a coisa está, cada três embalagens correspondem a 99 centilitros em vez de 100. Houve, portanto, algum chico-esperto que decidiu organizar uma roubalheira generalizada de 1%, o que não é nada desprezável!

Voltou a interromper-se, e, como começou a olhar fixamente para uma mancha de bolor no tecto, receámos que se esquecesse do que estava a dizer.
Mas, depois de algum tempo, lá continuou:

- ... ora essa marosca, se for devidamente denunciada nos jornais, na rádio, na televisão e na Internet pode ser o fim dessa cambada!!

E concluiu, de olhos brilhantes e esbracejando:

- Mas estou a pensar usar o meu apurado senso comercial para tirar partido da coisa... Vou chantagear esses gajos, desde as Águas do Luso até à toda-poderosa Coca-Cola!! E vou enriquecer!!

De facto o nosso amigo Coronel não estava bem... Então agora dera em chantagista?! Que horror! Quem diria?!

E foi quando já vínhamos a sair, muito desiludidos, que a Florinda tropeçou em qualquer coisa que rebolou pela sala e eu apanhei do chão:
Uma garrafa (quase vazia...) de Whisky velho. E de 75 centilitros (aliás, 3/4 de litro).

Ora aí estava uma explicação racional!




Notas do Editor:

(1) A Florinda era a namorada do Jeremias à data em que esta história se passou.

(2) É o médico da família e também da Makro Teknica (ver «Operação JEREMIAS», em http://www.digito.pt/jeremias)

(3) Comenta ele:
«Vou mudar de médico! Se não me ponho a pau, aquele maluco corta-me tudo!» - Ao dizer as últimas palavras, ele sorri com ar malandreco e esclarece: «Ultimamente, eu já só bebia às refeições e no intervalo. Agora, já nem isso ele me deixa fazer!»


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