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  Medina Ribeiro - 31/07/99 Enviar por email   Versão impressora

Jeremias XVIII- A Grande Volta ao Mundo!
 
  [Macro error: Can't locate an image object named "imagcad50".] Se há coisa que eu gosto de fazer é de passear pelas lojas de ferro-velho. Nas feiras, passo por vezes tempos infinitos à procura de um parafuso ou de uma porca, e tenho pena que hoje em dia haja pouca malta nova com os meus gostos.
A informática é muito interessante, a Internet é uma loucura, mas também sinto imenso gozo em pôr a trabalhar um motor de rega e tentar fazer um kart com ele... Verdade se diga que nunca consegui, mas isso é outra história.

Ora, numas dessas minhas passeatas pelos sítios onde essas velharias se vendem e se compram, encontrei o meu amigo Coronel, de cócoras e com a bengala encostada a uma árvore, a escolher... correntes!

Não resisti a pregar-lhe uma pequena partida:
Aproximei-me por trás, pé-ante-pé, fiz sinal à vendedora para que não se desmanchasse, e, disfarçando a voz, exclamei:

- Cuidado, que isso está ligado à corrente!

O Coronel começou por se assustar, mas depois riu a bom rir e fez uma grande festa por me ver.

Porém, tendo em conta que ele parecia estar em complicadas negociações, afastei-me um pouco e deixei-o regatear à vontade.
Finalmente, passado algum tempo, apareceu muito feliz e com um saco de plástico a arrastar pelo chão, trazendo visivelmente uma corrente muito pesada lá dentro.
Tinha, pelos vistos, comprado muitos metros dela!

- Então? Por causa dos assaltos vai ligar as portas à corrente? - Perguntei, esquecendo-me de que nunca se deve repetir uma gracinha.
- Nada disso... ando a preparar-me para entrar para o Guiness. E olha que  não é tarde nem é cedo! Anda daí, que há lugar para nós os dois ficarmos famosos!

E, olhando em volta para se certificar de que ninguém nos ouvia, concluiu, em tom de grande segredo:

- Logo à noite aparece lá em casa. Trata-se de um trabalho que tem que ser feito de noite e com alta confidencialidade!

"Pronto, mais outra maluqueira dele!" - E fiquei a vê-lo a encaminhar-se para a paragem do autocarro.
Mas, no fundo, são precisamente as maluquices do Coronel que o tornam uma pessoa tão interessante e uma companhia tão divertida.
E, assim, logo que acabei de jantar convenci a Mariana (1) a adiar a prometida ida ao cinema e lá apareci em casa dele.
Estava tudo praticamente às escuras, excepto uma pequena luz bruxuleante que saía de um pequeno postigo da garagem - "a cave dos grandes mistérios" - como ele gostava de dizer.
Bati à porta. Mas, quando eu pensava que ma abrisse, fez-me esperar imenso tempo e apareceu na porta principal da casa.
Depois, sem qualquer explicação, levou-me pelas escadas acima até ao último andar e em seguida conduziu-me, ao longo do corredor, até às águas-furtadas onde tinha o quarto.
Tirou a famosa chavinha do bolso esquerdo do colete, abriu a passagem secreta de que tanto gostava, e voltámos a descer!!!

Não comentei... e concentrei a minha atenção em tentar não cair por ali abaixo e - chegado à cave - em descobrir o que é que ele estava a fazer.
Andava, pelos vistos, de roda das rodas da mota! E, no chão, três troços, já cortados, da corrente que tinha adquirido...
Percebi, então, que ele os ia colocar em volta dos pneus como se quisesse usar a moto na neve! Mas qual neve, se estávamos no pino do Verão?!
Porém não lhe perguntei nada que pudesse fazer sobressair essa incongruência e limitei-me a ajudá-lo, numa tarefa que nos ocupou até altas horas da noite.

- Amanhã vêm buscá-la para a levar para o ponto de partida.

"Ponto de partida?! Mas partida de quê?! Grande partida estava ele a pregar-me a mim, pelos vistos!"
Preparava-me para me vir embora quando o Coronel, espantado, se virou para mim e perguntou:

- Olha lá! Então não me perguntas para que é isto tudo?!

Mas também não esperou pela resposta e, em vez de me deixar vir embora levou-me pela escada secreta até ao seu quarto.
Ligou o computador, acedeu à Internet, e mostrou-me uma enorme quantidade de páginas relacionadas com "Voltas-ao-Mundo"!

- Como eu pensava, Jeremias... Como eu pensava... Tanto quanto sei, ainda ninguém deu a volta ao mundo de moto. Pelo menos, em moto com sidecar. Se nos apressarmos, portanto, a glória pode ser nossa!

Bem... pessoas como o Coronel não podem ser contrariadas, muito especialmente quando têm os olhinhos a brilhar e se movimentam de um lado para o outro agitando no ar enormes bengalas...
Limitei-me, então, a fazer um ar interessado e a perguntar, esforçando-me por não me rir:

- Quando é que partimos?
- Não tenhas pressa, jovem amigo. Há um tempo para cada coisa e cada coisa tem o seu tempo. Primeiro, há-de vir uma camioneta buscar a moto. Depois, será levada para um barco especialmente fretado. Ao fim de alguns dias de tempestuosa viagem pelo alto mar seremos prevenidos por e-mail de que poderemos, então, partir. Nessa altura iremos de avião.
Fiquei na mesma, e passaram-se duas ou três semanas sem novidades.

- ooOoo -

Um belo dia, devido à minha nova actividade relacionada com a Internet nas Escolas, fui chamado para ir ajudar a Dra. Linotípica a preparar as aulas de Geografia.
Eu sempre fui um aluno razoável nessa matéria, mas especialmente em Geografia portuguesa. Confesso que, quando a coisa alarga um pouco os horizontes, tenho mais dificuldades.
Mas tudo se resolve, pois o que não se sabe também se aprende.
E foi assim que dei comigo, ao lado da simpática senhora, a ajudá-la a usar a Internet para preparar as lições que ia dar nos próximos dias.

Ora eu tive a brilhante ideia - por associação de raciocínios com o que se passara anteriormente - de propor que as aulas de Geografia abordassem qualquer coisa como "A Volta ao Mundo em 80 Dias", não só para levar a juventude a ler um livro fabuloso como para tornar as aulas mais divertidas, intercalando-as com algumas peripécias do Passepartout e do Phileas Fogg...

E assim foi.

Dado que eu tinha o livro bem presente (ao contrário da doutora. que - palpita-me - nunca o tinha sequer folheado... ) foi-me fácil ir saltitando de país para país, de Oeste para Leste, ao sabor das peripécias contadas pelo meu grande amigo Júlio.

Ora aconteceu uma coisa muito interessante:
Ao acedermos à Internet, e num desses muitos sítios em que se mostravam esse e outros trajectos de voltas-ao-mundo feitas pelos mais incríveis navegadores, (2) reparei que a maior parte era feita a latitudes intermédias.

E pensei:
"De facto, uma volta-ao-mundo é uma viagem que, partindo de um determinado ponto da Terra, regressa ao mesmo sítio depois de atravessar todos os meridianos (3). Mas nada se diz da latitude a que isso é feito!"
Ao ver um enorme globo terrestre a um canto da sala levantei-me, dirigi-me a ele, e pu-lo a girar, devagarinho, enquanto procurava perceber a ideia do Coronel que cada vez me parecia mais disparatada.
Mas o certo é que, de facto, uma camioneta de transporte já tinha aparecido e levado a moto sabe-se lá para onde!

"Uma volta-ao-mundo como deve ser..." - eu continuava a olhar para o globo e a matutar enquanto o fazia rodar lentamente - "...devia fazer-se ao nível do Equador, pois de contrário, e  no limite, alguém que fosse para junto dos pólos podia dar essa volta-ao-mundo até de triciclo ou a pé-coxinho!"

E foi nessa altura, quando já começava a fazer-se luz no meu espírito, que o meu  telemóvel tocou.
Era o Coronel:

- Olha, o Aganugaruk, finalmente, escreveu! Diz que a máquina já lá chegou e podemos ir!

Eu não estava a perceber nada. Quem seria esse Aganugaruk?! Mas a dúvida durou pouco tempo:

- Aquele gajo é impecável! Vê lá tu que, para proteger a moto, até fez um igloo só para ela!

NOTAS:
  1. A Mariana era a namorada do Jeremias nessa altura (ou nessa semana?!).
  2. A começar pelo Fernão de Magalhães que, na realidade, morreu pelo caminho, nas Filipinas. A viagem, que iniciou em 1519 (no sentido Este-Oeste), foi terminada por apenas dezoito sobreviventes que chegaram a Sevilha em Setembro de 1522 sob o comando de Sebastião Del Cano.
  3. E duas vezes. Por exemplo: uma pessoa que queira dar a volta ao mundo cruzará o meridiano de Greenwich na longitude 0º e na longitude 180º.

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